Não estamos em 1967, mas o Estadão ainda sofre pela censura
Por:Ricardo Vieira e Tiago Ribeiro
No ano de 1967 teve grandes acontecimentos: o casamento de Elvis Presley com Priscilla Presley; lançamento do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles; a primeira edição da revista Rolling Stone Magazine; também foi a primeira vez que Jimi Hendrix colocou fogo em sua guitarra. Enquanto isso, o Brasil se inseriu em uma fase negra, a ditadura militar. Um período que durou 21 anos, no qual somente os militares governavam o país. Foi um longo tempo de enfrentamentos políticos e sociais. Em meio a tudo isso, acontecia um festival de música em uma TV.
Era pra ser mais um festival de música, mas virou história. Querendo ficar perto de Festival de San Remo (um dos principais eventos musicais do mundo), promovido por Solano Ribeiro, deu inicio no ano de 1965. A sua terceira edição, o III Festival da Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record, foi considerado o melhor dos tempos. Com grandes nomes consagrados da música brasileira, o festival que era só um festival, teve uma grande repercussão no Brasil. Grandes cantores como: Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Sérgio Ricardo, Roberto Carlos, entre outros. Dividiram o palco do Teatro Paramount (SP), com direito a aplausos, vaias e até um violão quebrado e jogado na platéia. Era uma época de ditadura militar e de muitos protestos.
O documentário Uma noite em 67, dirigido por Ricardo Calil e Renato Terra estreou nessa última sexta. O filme é fundamental para todas as novas gerações. Como o Brasil é um país que não vive sua história, é bom que aja esse tipo de fomento cultural. Os críticos como sempre, caem em cima. Mas a reflexão que a Revista Maneira quer trazer aqui é outra.
O Ato Institucional I, datado no dia 09 de abril de 1964, concede aos militares poderes que antes eles não tinham. Proibindo diversas pessoas, por um período de dez anos, a exercerem seus atos políticos. Logo depois, chegou o A-5 e pronto, a censura estava no ar. Existia uma perseguição a quase todos que se colocavam contra o governo. Eles eram perseguidos, exilados, torturados e até mortos. E queridos leitores, não estamos em 1967, mas o jornal O Estado de S. Paulo, está sob censura a um ano. O Estadão está proibido, por sentença judicial, de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica. Uma Operação que a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. A censura foi decretada em 31 de julho de 2009 pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a pedido do empresário. E a censura volta com tudo.
Uma outra informação que não conta no filme, é que Randal Juliano, o repórter que entrevistava os artistas nos bastidores do festival de 67, é o mesmo que denunciou Caetano e Gil à polícia do regime militar no ano seguinte. Como os jovens de hoje estão preocupados com seus iphones ninguém faz absolutamente nada.
Publicado dia 02/08/2010
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